A Privatização da Vale. Assim não Vale!!!

Em 6 de maio de 1997, o Brasil cometeu um de seus maiores equívocos estratégicos: entregou uma das maiores mineradoras do mundo por R$ 3,34 bilhões — valor que, à época, mal arranhava a superfície do verdadeiro patrimônio mineral embutido ali.

A Vale, então empresa estatal e estratégica, foi comprada por um consórcio de bancos, fundos de pensão e siderúrgicas. Levaram, junto com o nome, bilhões de toneladas de minério de ferro, cobre, níquel, manganês, bauxita, urânio, ouro — e mais que isso: o controle de parte do subsolo nacional.

Venderam o galpão, mas “esqueceram” que tinha ouro debaixo do chão

A Vale não era uma empresa deficitária. Pelo contrário: era lucrativa, com infraestrutura própria e operação internacional. Mas foi precificada como sucata. E o mais grave: suas reservas minerais não foram devidamente consideradas no valor da venda.

Em valores atualizados (abril de 2025), só o minério de ferro ainda disponível nas reservas da empresa vale R$ 2,36 trilhões. Somando cobre, níquel e manganês, o total ultrapassa R$ 3,1 trilhões. A Vale não foi privatizada. Foi, na prática, doada.

Quem comprou virou rei; quem vendeu continua servindo café

Enquanto acionistas nadam em dividendos bilionários, o povo brasileiro recebe migalhas em royalties. Royalties que sequer cobrem os danos de Mariana e Brumadinho. A pergunta que não cala: onde está o retorno social de uma empresa que explora o que é de todos?

A resposta é triste: foi parar nas mãos de poucos. Os mesmos de sempre.

E a lição? Talvez não tenha sido aprendida

Privatizar não é pecado. Mas entregar um ativo estratégico a preço simbólico, sem controle, sem retorno claro para a sociedade, é um erro que ainda estamos pagando.

A Vale é mais que uma empresa. É um espelho de como o Brasil trata seus recursos: como se fossem bagagem extraviada. Que o futuro cobre o que o passado assinou sem ler.

Questões

1 A Vale do Rio Doce foi criada em 1942, durante o governo de Getúlio Vargas, num contexto de fortalecimento do Estado e valorização da soberania nacional sobre os recursos estratégicos. Em 1997, foi privatizada sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, num cenário de reformas neoliberais e abertura econômica.
Compare os contextos político-econômicos desses dois momentos e analise como cada um reflete uma visão distinta sobre o papel do Estado, o controle dos recursos naturais e o desenvolvimento do território brasileiro.

2 O texto aponta que “royalties que sequer cobrem os danos de Mariana e Brumadinho” demonstram a insuficiência das compensações financeiras diante das tragédias ambientais.
Explique os fatores geológicos e estruturais que podem levar ao rompimento de barragens de rejeito. Em seguida, analise os impactos socioambientais desses eventos e discuta se os royalties pagos pelas mineradoras são adequados para reparar tais danos.

3 No trecho “venderam o galpão, mas ‘esqueceram’ que tinha ouro debaixo do chão”, o autor utiliza uma metáfora para criticar a subvalorização dos recursos minerais durante a privatização da Vale.
Explique por que o conhecimento geológico — especialmente sobre formações como escudos cristalinos e províncias minerais — é fundamental para a correta avaliação de uma empresa mineradora. Cite exemplos brasileiros.

4 O Brasil é um dos maiores exportadores de commodities minerais, como o minério de ferro explorado pela Vale. Apesar disso, o país continua enfrentando dificuldades em alcançar um desenvolvimento econômico sustentável e reduzir sua dependência externa.

Por que a venda de commodities, mesmo gerando grandes volumes de exportação, nem sempre contribui de forma significativa para o fortalecimento do saldo da balança comercial e para o desenvolvimento econômico do país?

Prof. Luciano Mannarino

@geoverdade

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