“Viver sem viver”
Estamos nos acostumando a viver sem, de fato, viver. A existir numa espécie de suspensão, onde tudo passa diante dos olhos, mas quase nada passa por dentro. O que seria apenas uma pausa entre um toque e outro se transforma, aos poucos, na forma como escolhemos habitar o mundo: distraídos, acelerados, afastados.
Há uma diferença entre estar vivo e estar presente. Mas essa presença, que exige tempo, corpo e entrega, tem sido substituída por uma sequência infinita de estímulos prontos. Basta olhar — não é preciso sentir, refletir, nem decidir. A vida parece continuar, mas somos levados por ela em modo automático.
Quando tentamos apenas estar — sem tela, sem ruído, sem atalhos — o mundo à nossa volta parece esvaziado. Um quarto silencioso, uma rua sem graça, o intervalo entre dois compromissos… tudo se torna incômodo. Como se estivéssemos num lugar que não nos oferece nada. E ainda assim, é ali que a vida acontece. Lenta, sem espetáculo.

Nos vemos inquietos. Sem saber o que fazer com o tempo livre, com o tédio, com a ausência de estímulo. Olhamos ao redor e tudo parece menor do que aquilo que acabamos de deixar na tela. A comparação é injusta, mas inevitável. E, por impulso, voltamos.
A cada retorno, entregamos mais um pedaço da nossa autonomia. Porque lá — na superfície das luzes e sons — somos atendidos. Aqui, na realidade bruta, somos desafiados. E por não sabermos mais sustentar o vazio, nos entregamos ao conforto do que exige pouco e oferece muito: dopamina sem esforço, distração sem fim.
No fundo, sabemos. Estamos trocando presença por ocupação. Profundidade por movimento. Estamos nos tornando espectadores daquilo que deveríamos estar vivendo.
Prof Luciano Mannarino e A.I