O ENSINO DA GEOGRAFIA E A CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS CIENTÍFICOS GEOGRÁFICOS

MARIA DO SOCORRO FERREIRA DA SILVA

Doutora em Geografia pelo NPGEO/UFS e Pesquisadora do GEOPLAN/UFS/CNPq.
ms.ferreira.s@hotmail.com

EDIMILSON GOMES DA SILVA

Doutorando pelo NPGEO/UFS e Pesquisador do GEOPLAN/UFS/CNPq. dimil10@hotmail.com

RESUMO: O ensino contemporâneo da Geografia tem sido alvo de diversas discussões, todavia vem se construindo a partir de conceitos-chave a luz das categorias de análise geográfica, a saber: espaço geográfico, lugar, paisagem, território, região e rede geográfica.

Esse ensaio tem como objetivo contribuir para a construção dos conceitos científicos geográficos no ensino Fundamental (6° ao 9° ano). O trabalho ocorreu mediante levantamento bibliográfico, experiência de sala de aula a luz de observação sistematizada. Para a construção dos conceitos geográficos é fundamental que o professor inicie seu trabalho partindo do espaço vivido do aluno, do concreto para o abstrato.

A utilização dos saberes geográficos do cotidiano do aluno contribui para auxiliar no estudo dessas categorias, as quais podem ser compreendidas de maneira muito mais prazerosa, além de melhorar a relação ensino/aprendizagem.

INTRODUÇÃO

O processo ensino/aprendizagem é complexo, ocorrendo em diversas fases do desenvolvimento do aluno. Neste sentido, pode destacar dois importantes princípios que norteiam a relação ensino/aprendizagem na Geografia: o conhecimento dos conceitos das categorias de análises geográfica e a experiência do professor da disciplina; e o conhecimento do aluno no que concerne ao desenvolvimento do seu raciocínio e ao ambiente social, ou seja, a partir do espaço vivido, o seu cotidiano.

Neste contexto, o trabalho docente é práxis, fundamentando-se de teoria e prática para realizar a transformação social conjugada à ação humana, sobre a realidade vivida que ocorre através da reciprocidade entre teoria e prática (PIMENTA, 2001).


A Geografia se ocupa dos estudos da transformação do espaço, das relações dialéticas e das mudanças que ocorrem no contexto mundial. Assim, refletir sobre o ensino de Geografia na atualidade implica pensar num processo amplo e complexo, sobretudo pelas rápidas transformações que ocorrem nas várias dimensões, a saber: política, econômica, social, ambiental e cultural.

Assim, cabe ao professor de Geografia acompanhar e evidenciar tais transformações no âmbito escolar isso não quer dizer que o professor deva resumir-se a um competente veiculador de conhecimentos e acontecimentos atuais, mas necessita ser um profissional preocupado com as consequências dos conhecimentos, com a formação política do aluno, assim como sua capacidade crítica (GUIMARÃES, 2000).

Nesse viés, é importante propiciar ao educando uma análise do espaço geográfico, através da construção das categorias geográficas permitindo uma aproximação com sua realidade, bem como sua compreensão e diferentes formas de intervenção do espaço vivido.


Pois, a partir do momento que o aluno visualiza sua inserção no contexto local conseguirá compreender o contexto regional, nacional e global. Assim, a utilização dos saberes geográficos no cotidiano dos alunos contribuirá para melhorar os resultados da prática docente.

O que não implica que os educadores devam trabalhar de forma hierárquica do local ao mundial. É interessante que na apresentação dos conteúdos curriculares, a paisagem local e o espaço vivido sejam abordados de tal forma que possibilite que a criança estabeleça as primeiras relações espaciais com o mundo e vice-versa, desvinculando a ideia de visão segmentada do espaço escalar (BRASIL, 1998).


Na visão de Callai (2001) vários autores destacam que o conteúdo da Geografia é o mundo, o espaço e sua dinâmica, onde as mudanças ocorrem com velocidade. O que torna imprescindível oferecer condições de pensar e agir aos alunos, buscando elementos que permitam compreender e explicar as constantes transformações.

O ensino da Geografia possibilita aos educandos a compreensão de sua posição nas relações da sociedade com a natureza; bem como suas ações, individuais ou coletivas, emitem consequências tanto para si como para a sociedade. De modo similar, permite que adquiram conhecimentos para compreender as diferentes relações estabelecidas na construção do espaço geográfico onde se encontram inseridos, enquanto sujeitos, tanto no contexto local como mundial (BRASIL, 1998).

Por outro lado, a integração entre a teoria e a prática está entre os principais desafios da Geografia, sobretudo numa perspectiva de formar cidadãos conscientes e críticos de seu papel na construção do espaço geográfico. A construção do saber geográfico no Ensino Fundamental, neste caso 6° ao 9° Ano, e Ensino Médio é baseada em conceitos-chave.

Assim, analisaremos alguns desses conceitos, também conhecidos como categorias de análise geográfica, e apontaremos simultaneamente possibilidades de temáticas e/ou atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula de forma que o aluno compreenda a relação sociedade-natureza. Entre os conceitos destacamos: espaço geográfico, lugar, paisagem, território, região e redes geográficas.

Esse trabalho foi desenvolvido com base em levantamento bibliográfico, a cerca da temática abordada; relatos de experiências da autora, no âmbito do magistério superior nas disciplinas de Práticas de Ensino e Estágio Supervisionado em Geografia, ao longo da carreira docente, além da experiência na rede pública de ensino.

A prática da Geografia escolar, que ainda está presente na postura de vários professores, tem raízes na sua história de formação, fortemente arraigada na velha dicotomia entre Geografia Humana e Física. Assim, há necessidade de desconstruir esse caráter de fragmentação, de forma que venha a intervir no processo de ensino/aprendizagem valorizando a compreensão do espaço geográfico como uma extensão humana e física (LIMA & VLACH, 2002).

Dessa maneira, com a finalidade de melhorar a relação ensino/aprendizagem da Geografia, é necessário que o professor tenha um olhar crítico diante dos conteúdos a serem abordados em sala de aula, possibilitando a (re)construção dos conteúdos, onde aluno e professor sejam sujeitos ativos neste processo.

A IMPORTÂNCIA DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE GEOGRÁFICA

A Geografia é uma ciência fundamental para compreensão das questões socioeconômica e ambiental, mas há necessidade do estabelecimento da interdisciplinaridade com outras ciências. Neste sentido, a Geografia poderá contribuir para a intervenção da realidade concreta, (re)construída pelos sujeitos envolvidos.


Embora seja perceptível a evolução no ensino/aprendizagem, na contemporaneidade a escola ainda não se manifesta atraente, pois não dá conta de explicar e textualizar as novas leituras de vida. Para Callai (2000) é preciso envolver a realidade do aluno neste processo.  Castrogiovanni (2001) chama a atenção, destacando que as ciências, passam por mudanças ao longo do tempo, uma vez que as sociedades estão em processo constante de transformação e (re)construção.

Para a construção do raciocínio geográfico e o desenvolvimento da consciência crítica Rua et al.(1993) destaca a importância da construção de conceitos geográficos como pré-requisitos para a compreensão dos elementos inclusos na organização do espaço, fundamentais para a formação de um raciocínio geográfico articulado, cumulativo e crítico; e, a valorização do espaço vivido pelo aluno, tanto para a identificação de elementos necessários à construção de tais conceitos, quanto como base para análise crítica da organização espacial.


Sendo assim, é imprescindível que o professor de Geografia acompanhe essas mudanças, uma vez que a Geografia “não serve apenas para fazer a guerra”, mas também para ajudar a ler o mundo. Callai (2000) reforça, indagando que para que o aluno construa seu conhecimento a partir do conteúdo trabalhado na disciplina de Geografia é necessário que o professor desperte-o para aprender a pensar, ou seja, a partir do senso comum, do conhecimento produzido pela humanidade e pelo professor, o educando elabore o seu próprio conhecimento. Evidentemente, esse conhecimento, partindo dos conteúdos da Geografia, significa uma consciência espacial dos objetos, dos fenômenos, das relações sociais estabelecidas no contexto mundial.

Por outro lado, não basta ao professor de Geografia apenas dominar os conteúdos, é preciso refletir sobre as concepções pedagógicas que perpassam a relação teoria e prática.

Faz-se necessário rever a sua didática e os procedimentos metodológicos adotados em sala de aula, assim como ir além dos conteúdos da Geografia, buscando a interdisciplinaridade no ambiente escolar, partindo da realidade local, mas, efetivamente, estabelecer conexões com outros níveis escalares, local/regional/nacional/global.

ESPAÇO GEOGRÁFICO

O espaço geográfico é o conceito balizador da Geografia, produto da ação do homem sobre a natureza, conforme a sua evolução histórica-tecnológica e cultural. Para Corrêa (1982) é o mais abrangente, apresentando-se como “um todo” do qual derivam os demais conceitos e com o qual se relacionam. Milton Santos (1996:51) parte da compreensão de espaço como um “conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”.

A relação dos alunos com o espaço e sua abrangência e profundidade, requer instrumentos conceituais básicos que possibilitem uma leitura de mundo, de espaço. Neste contexto, pode-se tomar como objeto de estudo geográfico na escola, o espaço geográfico, entendido como um espaço social, concreto, em movimento que requer uma análise interdependente e abrangente de elementos da sociedade e natureza e suas múltiplas relações, bem como nas diversas escalas (CAVALCANTI, 2006).

O professor de Geografia tem a responsabilidade de propiciar ao aluno diversas possibilidades interpretativas do espaço geográfico, para que o educando possa interagir criticamente, compreendendo e relacionando as especialidades da Geografia, sobretudo a partir das relações estabelecidas entre a sociedade e natureza, enfatizando relações a partir de temas como urbanização, dinâmica populacional, aspectos econômicos, globalização, geopolítica, aspectos naturais: relevo, hidrografia, clima, vegetação e ecossistemas, entre outros. Neste contexto, a representação dos diferentes lugares, deve ser realçada mediante a utilização de mapas, maquetes e plantas, com a legenda e a escala definida, e com apoio das novas tecnologias.

A partir do conceito de espaço geográfico, pode-se trabalhar com as demais categorias, consideradas por alguns autores como mais operacionais, como: paisagem, território, lugar, rede, entre outros, onde cada conceito expressa uma possibilidade de leitura do espaço geográfico delineando um caminho metodológico (SUERTEGARAY, 2001).

Sugestão de atividades para sala de aula: por ser a categoria central da Geografia existem inúmeras possibilidades de trabalhar com o espaço geográfico, partindo da escala local para a global com suas interações, a depender da capacidade cognitiva do aluno, de forma que o mesmo consiga estabelecer a compreensão da sociedade-natureza, tais como:

a) Espaço público e privado, desde uma praça a uma multinacional: onde podem ser realizadas pesquisas de campo cuja representação poderá ser a elaboração e apresentação de uma maquete, por exemplo, como, no caso de multinacional pesquisas via telefones 0800 sites da empresa, demais fontes primárias, produtos consumidos, dentre outros.

b) Análise das transformações ocorridas no espaço urbano e rural a partir de imagens;

c) Espaço natural e espaço modificado pelo homem;

d) Elaboração de maquetes da organização do espaço geográfico; e,

e) Montagem de painéis das diferentes formas de ocupação do espaço local, regional, nacional e global.

Essas atividades podem ser desenvolvidas mediante a utilização de vários recursos
didáticos, tais como: fotografias, cartão postal, figuras, imagens de satélite e fotografias aéreas de forma que os alunos reconheçam como elementos fundamentais para a análise de organização do espaço geográfico.

LUGAR
O conceito de lugar está relacionado à realidade de escala local ou regional, podendo ser entendido, conforme Carlos (1996:20), como a parte do espaço geográfico, efetivamente apropriado para a vida, onde se desembocam as atividades cotidianas, “a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante-identidade-lugar”.

No passado a relação era local-local e na contemporaneidade é local-global, neste sentido, ao mesmo tempo em que é global, as relações se concretizam nos lugares específicos. Para Santos (1996) cada lugar é, à sua maneira, o mundo, e que a história concreta do nosso tempo, repõe a questão do lugar numa posição central. Assim, estudar e compreender o lugar repleto de relações históricas, de vínculos afetivos que ligam as pessoas aos lugares, as paisagens tornam-se significativas ao estudo, num tempo e num espaço específico. Em Geografia, significa compreender as relações que ali ocorrem inter-relacionando-as.

Assim, surge a importância de trabalhar a partir do espaço vivido, para que possa entender as relações entre o regional, o nacional e o global. Para Callai (2000) é imprescindível ler o lugar, para compreender o mundo em que vivemos. Pode-se partir de temáticas, de problemas e, a partir daí, aguçar a curiosidade dos alunos. Essas problemáticas podem ser formuladas a partir da realidade do que ocorre e do que existe no mundo, considerando as dimensões de espaço e de tempo.

Ao construir os conceitos de espaço e de tempo, analisando sua história de vida, vinculada com a história do lugar, o aluno levanta questionamentos, tais como: Como as paisagens foram criadas ao longo do tempo? Como era o lugar antes de tais ocupações? Por quem e de que forma o lugar foi ocupado? Como ocorreu o processo de ocupação? Que atividades foram desenvolvidas no local? Essas questões tendem a instigar o aluno a relacionar os conhecimentos adquiridos na escola, relacionando-os com seus saberes.

Por esse viés é fundamental contemplar os saberes que o aluno possui, mas é necessário associar esse conhecimento numa relação local/regional/nacional/global. Callai (2005) reforça quando destaca que ao observar o lugar específico (concreto) e confrontá-lo com outros lugares, dá-se início ao processo de abstração, entre o real aparente, visível, perceptível e o concreto pensado na elaboração do que está sendo vivido.

Os PCNs de Geografia abordam que o lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço geográfico. Outrossim, é por intermédio dos lugares que se dá a comunicação entre homem e mundo (BRASIL, 1998). O que reforça que as categorias de análise geográfica não devem ser trabalhadas isoladamente.

Com o intuito de facilitar a relação ensino e aprendizagem focaremos algumas sugestões de recursos didáticos e/ou atividades que podem ser desenvolvidas no decorrer das aulas. Entretanto, a partir dessas sugestões vocês devem refletir sobre outras possibilidades de recursos didáticos a serem usados, assim como os procedimentos metodológicos a serem utilizados para a concretização da atividade.

Sugestão para sala de aula: trabalhar com músicas, como por exemplo: Asa Branca de Luiz Gonzaga, ou Sampa de Caetano Veloso, assim como outras que podem ser usadas para responder as seguintes perguntas:

a) Que tipo de lugar é descrito na música?

b) Quais as características físicas e humanas do lugar?

c) Quais as relações estabelecidas com outros lugares regional/nacional/mundial?

d) Que outras canções os estudantes conhecem que descrevem outros lugares?

Dentre os vários recursos didáticos que podem ser usados em sala de aula para auxiliar no ensino da Geografia, os meios de comunicação, como a televisão e o computador conectado a internet, merecem destaque uma vez que tais recursos permitem que os alunos interajam instantaneamente com diferentes lugares do mundo, facilitando a compreensão da relação local/global.

PAISAGEM
Para muitos, a paisagem restringia-se à possibilidade visual, a tudo que nossa vista alcança. Para Troll (1950 apud SUERTEGARAY, 2001) é um conjunto das interações homem e meio, algo além do visível, resultado de um processo de articulação entre os elementos constituintes. Bertrand (2009) definiu-a como resultado sobre certa porção do espaço, da combinação dinâmica e instável dos elementos físicos, biológicos e antrópicos que interagindo dialeticamente uns sobre os outros fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em contínua evolução.

Já Milton Santos (1996) conceitua paisagem como o conjunto de formas que exprimem heranças as quais representam as sucessivas relações entre o homem e a natureza. O autor esclarece que a paisagem não é espaço geográfico, pois de acordo com sua conceituação: “A paisagem é diferente do espaço.

A primeira é a materialização de um instante da sociedade. Seria, numa comparação ousada, a realidade de homens fixos, parado como numa fotografia. O espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O espaço contém o movimento. Por isso, paisagem e espaço são um par dialético. Complementam-se e se opõem. Um esforço analítico impõe que os separemos como categorias diferentes, se não queremos correr o risco de não reconhecer o movimento da sociedade” (SANTOS, 1994:72).

Nas análises de Suertegaray (2001) a paisagem é um conceito que permite analisar o espaço geográfico sob uma dimensão, qual seja o da conjunção de elementos naturais e tecnificados, sócio-econômicos e culturais. Ao optarmos pela análise geográfica a partir dessa categoria podemos concebê-la enquanto forma (formação) e funcionalidade (organização).


Não necessariamente entendendo forma–funcionalidade como uma relação de causa e efeito, mas percebendo-a como um processo de constituição e reconstituição de formas na sua conjugação com a dinâmica social. Neste sentido, a paisagem pode ser analisada como a materialização das condições sociais de existência diacrônica e sincronicamente.       

Nela poderão persistir elementos naturais, embora já transfigurados (ou natureza artificializada). O conceito de paisagem privilegia a coexistência de objetos e ações sociais na sua face econômica e cultural. Callai (2000) ressalta que é a partir da leitura da paisagem que se permite analisar a história da população que ali vive, os recursos naturais existentes, assim como a forma como se utilizam desses recursos.


No ensino fundamental, é importante que partamos das paisagens visíveis e não de
conceitos que cabe mais ao Ensino Médio, ou seja, os conceitos não devem anteceder aos conteúdos, pois é importante, propiciar condições para que os alunos construam os conceitos, e entendam a sua importância (KAERCHER, 1999).

Sugestão para sala de aula:

a) O estudo pode iniciar mediante a observação da paisagem no espaço vivido, nas
proximidades da escola;

b) É importante orientar os alunos sobre a importância das diferentes linguagens na
leitura da paisagem: através de imagens (figuras, fotografias e filmagens), músicas, literaturas, e documentos de diferentes fontes de informação, de maneira que seja possível a análise e interpretação do referido espaço escolhido; e,

c) Entre as temáticas podemos destacar as sugestões de Lisboa (2002), tais como: as grandes paisagens naturais do globo; a comparação entre paisagens de diferentes países enfatizando os aspectos socioeconômico, culturais e ambientais; diferenciar paisagens urbanas, rurais e áreas industriais, assim como paisagens naturais e modificadas.

A partir daí o professor deve usar a sua criatividade e desenvolver diversas dinâmicas, a saber: elaboração de roteiros a partir da observação que o aluno faz da paisagem no trajeto de casa para a escola (indicado para alunos do 6° Ano do Ensino Fundamental); montagem de painéis e murais; elaboração e apresentação de cartazes (7° e 8° Ano); elaboração de maquetes; dentre outras. Evidentemente, essas dinâmicas tendem a tornar as aulas mais prazerosas, mas deve-se levar em conta a série e os conteúdos a serem trabalhados.

TERRITÓRIO
O território é essencialmente um espaço definido e delimitado por e a partir das relações de poder (SOUZA, 2003:78), no sentido de dominação e apropriação, de território usado destacado por Milton Santos (2001). Entretanto, é fundamental entender que espaço e território não são termos equivalentes nem tão pouco sinônimos. O espaço está em posição que antecede ao território, pois este é criado a partir do espaço (SANTOS e SILVEIRA, 2001).


Na acepção de Santos “O território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem é plenamente realizada a partir das manifestações da sua existência. [Nesse sentido] a Geografia passa a ser aquela disciplina mais capaz de mostrar os dramas do mundo, na nação, do lugar” (SANTOS, 2002:9).


Neste sentido, o território é definido pelas relações de poder tecidas na existência de práticas sociais que fazem parte da vida dos alunos. A partir do espaço os atores sociais territorializam o espaço no momento que dele se apropriarem. Assim, a depender das diversas escalas, os atores sociais produzem territórios a partir de estratégias de seus interesses as quais comumente se chocam.

Sugestão para sala de aula: o professor pode partir de atividades com ênfase para:

a) Trabalhar com os alunos na construção do conceito de território como campo de
forças envolvendo relações de poder entre os diferentes grupos sociais, sendo importante citar as relações de poder estabelecidas no âmbito local demais escalas de análises;

b) A demarcação do território na sala de aula, na escola, e/ou em lugares que os alunos percebem e concebem, a partir das relações de poder estabelecidas;

c) Estudos das fronteiras do território brasileiro, o qual pode contar com o auxílio dos diversos tipos de mapas;

d) A sociodiversidade do espaço brasileiro, sua localização no território e suas formas de manifestação e interação, bem como os territórios detentores de biodiversidade que são palco de conflitos pela apropriação, controle e uso do território;

e) Os processos históricos construídos em diferentes escalas tempo-espacial a partir do território usado;

f) Análise de como o Estado organiza o território nacional, regional e local;

g) Influência de atores sociais (Estado, empresas nacionais e internacionais, latifundiários, pequenos produtores locais, comunidades tradicionais e demais atores sociais envolvidos no território em análise) enfocando as relações de poder estabelecidas num determinado território.

REGIÃO
O termo região deriva do latim regio, que se refere à unidade política-territorial em que dividia o Império Romano. Sua raiz encontra-se no vergo regere, que significa governar, que atribui a região em sua concepção original, uma conotação eminentemente política (CORRÊA, 2001; GOMES, 2003). A região como meio para as interações sociais, tratando-se da ideia política da região com base na ideia de dominação e poder constituindo fatores fundamentais na diferenciação de áreas (CORRÊA, 2001).


No contexto do ensino dessa categoria (GRIGG, 1967 apud GOMES, 2003) é importante frisar que regionalizar é uma tarefa de dividir o espaço segundo diferentes critérios que são explicitados, mas que variam conforme as intenções explicativas de seu trabalho. Todavia, as divisões regionais não são definitivas, assim como não pretendem apresentar a totalidade da diversidade espacial, mas sim, devem contribuir para a compreensão de um problema, sendo um meio e não mais um produto.

Neste contexto, a região é uma classe de área, fruto de uma classificação geral que divide o espaço segundo critérios que justifiquem a sua importância para determinadas explicações. Por outro lado, não se deve obscurecer seu lado essencial, o de fundamento político, de controle e de gestão de um território (GOMES, 2003).

Sugestões para sala de aula:
a) Trabalhar o conceito de região a partir da definição, partindo do concreto – espaço vivido dos alunos – para o abstrato;

b) Análise dos critérios de regionalização com base nas diversas propostas de regionalização, como: divisão regional do IBGE ao longo do tempo; divisão geoeconômica (complexos regionais); divisão com base no meio técnico-científico-informacional, dentre outras. É importante que o professor deixe claro quais foram os critérios utilizados e a finalidade da divisão regional estudada.

c) Outra opção é o estudo de regiões em diferentes escalas de análise (local, regional, nacional e global) enfatizando o uso da cartografia como instrumento de aproximação dos lugares.

REDES GEOGRÁFICAS
Para Corrêa (1999:107) rede geográfica é “um conjunto de localizações geográficas interconectadas” entre si “por um certo número de ligações”, que podem ser constituído tanto por uma sede de cooperativa de produtores rurais e as fazendas a elas associadas, como por ligações (i)materiais que conectam a sede de uma empresa, seu centro de pesquisa e desenvolvimento, suas fábricas, depósitos e filiais de venda, assim, como também, podem ser constituídas por pelas agências de um banco e seus fluxos de informação que circulam entre elas.


Ou seja, “conjunto de nós interconectados, sendo nó o ponto no qual uma curva se entrecorta (CASTELLS, 2000). Curien (1988 apud Santos (1996) complementa definindo rede geográfica como toda infra-estrutura, que possibilita o transporte de matéria, de energia, de informação [e de capital] que se inscrevem num território onde se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação.

Para Corrêa (1999) a rede geográfica é um conjunto de localizações sobre a superfície terrestre, articulado por vias e fluxos. O autor utiliza o exemplo da sede de um banco e suas agências distribuídas em amplo espaço e articuladas entre si por diversos fluxos.


No contexto atual as redes adquirem cada vez mais importância, podendo ser compreendida com maior facilidade pelos alunos a partir dos exemplos que fazem parte do seu dia a dia, como: redes de água, redes de informáticas (internet), estrutura urbana e redes de transporte.


A rede urbana é um dos exemplos mais fáceis para que o aluno compreenda a organização em rede, sendo possível a partir da identificação da hierarquia das cidades, conforme a importância econômica, onde seus nós são compostos por cidades globais, metrópoles nacionais e regionais, centros regionais, subcentros regionais e cidades locais.


Neste sentido, há uma interligação entre esses nós da rede urbana, onde se estabelecem os fluxos de mercadorias, de capital, de pessoas, e de serviços (LISBOA, 2002). Igualmente, é importante mostrar ao aluno que na atualidade um subcentro regional pode estabelecer relações econômicas diretamente com uma metrópole global, sobretudo devido aos avanços do meio técnico-científico-informacional, não necessitando estabelecer relações com a velha hierarquia urbana.

Sugestão para a sala de aula: pode estabelecer discussões e atividades a partir:

a) De exemplos de redes de bancos; de comércio, de supermercados e shopping
centers;

b) De análises da estrutura urbana de um país, região ou cidade;

c) Do funcionamento mundial das redes de tráfico de drogas;

d) Das redes de transporte e comunicações;

e) Da globalização, com ênfase para as novas hierarquias urbanas;

f) Da evolução das tecnologias e as novas territorialidades.

    Como o mapa é um dos principais recursos didáticos do ensino da Geografia, seu uso também deve acompanhar a realização de atividades como possibilidade de auxiliar a leitura de mundo.

CONCLUSÃO
No contexto da geografia escolar o estudo das categorias de análise geográfica é fundamental para a compreensão das constantes transformações do espaço geográfico. A construção dos conceitos dessas categorias – espaço geográfico, lugar, paisagem, território, região e rede geográfica – é considerada pré-requisito para a compreensão dos elementos presentes na organização do espaço.

Neste sentido, para facilitar essa construção é importante partir do espaço vivido do aluno da educação básica. Vale destacar que esses conceitos passaram por uma evolução ao longo das correntes do pensamento geográfico, portanto, não estão prontos e acabados.


Outrossim, essas categorias não devem ser trabalhadas de forma isolada, uma vez que só adquirem um significado real quando associadas com a realidade, facilitando assim, a compreensão de outros níveis escalares numa relação local/global, onde a cartografia pode ser usada como instrumento de aproximação dos lugares.


A partir da inserção do espaço vivido no ensino da Geografia será possível um diálogo entre professores e alunos, no sentido de despertar a criticidade do educando enquanto sujeito ativo desse processo. Neste sentido, há várias possibilidades de procedimentos metodológicos e recursos didáticos, desde os mais simples aos mais sofisticados, os quais podem contribuir na compreensão dos conceitos científicos partindo do concreto para o abstrato. Nesse viés, cabe ao professor ousar, ser criativo na perspectiva de tornar as aulas mais prazerosas, melhorando a relação ensino/aprendizagem.

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