Sentou-se no meio fio e com um olhar perdido fitou as pessoas que passavam, sacou uma pequena colher da velha calça e começou a cavar entre um dos paralelepípedos da rua e com uma destreza incomum logo o pequeno pedaço de rocha já estava totalmente solto, no entanto, colocou toda a areia de volta. Guardou a colher amassada e riu. “Tristeza isso que aconteceu com ele” Falei como esperasse uma confirmação do Seu Américo. “Sim, é verdade. O Otávio foi meu amigo de infância! A guerra foi terrível para ele”. “Alguns não conseguem mais voltar dela. Ficam perdidos para sempre. É muita dor”. Justifiquei tamanha insanidade. Seu Américo não disse nada e depois de uma longa pausa para acender seu cigarro de palha, foi visceral “Acho que todos deveriam voltar dilacerados de uma guerra. Penso que um ser humano que passa por essa experiência não deveria voltar a ser a mesma pessoa. Desconfio daqueles que voltam emocionalmente saudáveis. É paradoxal pensar assim meu filho, sei disso. Todos precisam voltar loucos para que acreditemos na natureza humana”. Definitivamente o velho Américo era a reencarnação do Buda!
(parte do livro que estou escrevendo “memórias do lugar”)
Prof. Luciano Mannarino