
Assim como os indígenas, que, segundo alguns estudiosos, não teriam percebido as caravelas dos colonizadores por não possuírem uma referência para interpretá-las, nós também podemos estar cegos frente a transformações profundas que estão ocorrendo ao nosso redor, sem que sejamos capazes de ver com clareza seus impactos iminentes.
As “caravelas” do presente podem estar ancoradas em diversas áreas da nossa existência. A revolução tecnológica, especialmente a inteligência artificial, é uma das mais notáveis. Muitos ainda não conseguem compreender a extensão das mudanças que a IA está provocando na economia, nas relações sociais e até mesmo na própria percepção de humanidade. Assim como as caravelas no horizonte pareciam inofensivas até que mudaram o curso da história, a IA pode estar silenciosamente redesenhando o tecido social, enquanto muitos de nós ainda não temos os instrumentos mentais ou emocionais para vislumbrar o futuro que ela trará.
E há ainda as sutis transformações no comportamento humano, como a crescente imersão no mundo digital. As interações virtuais, a dependência das redes sociais e a alienação da realidade concreta podem ser comparadas a essas caravelas invisíveis. Estamos, talvez, tão absorvidos por nossos próprios paradigmas e distrações tecnológicas que não percebemos o quanto estamos nos afastando de algo essencial – nossa conexão com o mundo físico, com os outros, com nós mesmos.

Essa reflexão abre espaço para uma pergunta essencial: como podemos nos preparar para ver essas novas caravelas antes que seja tarde demais? E o mais importante, o que faremos quando, finalmente, pudermos vê-las?

Luciano Mannarino.