A neta, com seus catorze anos e olhos curiosos, sentava-se ao lado da avó, uma senhora de cabelos brancos e um olhar que misturava serenidade e sabedoria. Ao redor delas, os amigos conversavam animadamente, como sempre acontecia nas noites quentes das férias.
A escada era um palco onde cada um interpretava seu papel. Dona Maria fazia piadas que arrancavam risadas; seu José recontava histórias dos velhos tempos, com aquela entonação dramática que todos já conheciam. Mas, aos poucos, a cena ia se esvaziando. As vozes diminuíam, os risos se dissipavam, e a noite avançava.
Enquanto todos partiam, a avó permanecia. Firme, tranquila, sem pressa. Quando o último amigo se despedia, ela suspirava levemente, como quem já conhecia aquele ciclo.
— Vó, por que a senhora é sempre a última a sair? — perguntou a neta, intrigada.
A avó sorriu, como se já esperasse essa pergunta.
— Porque, minha menina, quando alguém vai embora, o assunto passa a ser ele. Mas quem fica por último… não dá margem para falarem.
A neta refletiu por um instante.
— Então a senhora fica para se proteger?
A avó não respondeu. Apenas a envolveu num abraço demorado.
Prof Luciano Mannarino