Era um senhor de hábitos conservadores, rígido e disciplinador. Sempre impedia excessos. Não podia gritar palavrões durante uma partida de futebol, coibia namoros, reprimia pichações na parede, exigia que a porta do condomínio ficasse fechada, etc.
Sua gestão como síndico foi conturbada e não suportando a pressão, se desligou e voltou a ser um morador recluso e só era visto quando, trajando um terno cinza, ia levar a filha autista para o culto evangélico dominical. Passou a sofrer gracejos e piadas de todos que o detestavam, mas com extrema polidez sempre ignorou. Até que um dia se mudou e nunca mais foi visto.
– Isso significa nossa vitória contra essa gente velha e arrogante. Eles precisam entender que o mundo é outro.
Disse um amigo, quando soubemos que Seu Antônio havia ido embora.
Quanto ao prédio? Bom, ele se tornou um ponto de encontro de desajustados, pichações apareceram, muitas garotas engravidaram sob suas pilastras e até de madrugada havia partidas de futebol. Vários moradores também se mudaram – inclusive a minha namorada. O belo condomínio, com suas luzes, pessoas e jardins se transformou num lugar abandonado.
O novo havia vencido!
(memórias do lugar)
Luciano Mannarino