Era normal uma tempestade de verão no final da tarde – nos anos de 1970 o tempo era mais previsível, porém naquele dia a chuva caiu no início da noite. As chuvas convectivas (como é chamada pelos cientistas) são efêmeras. Como um orgasmo da natureza elas tem início, meio e fim . Essa veio acompanhada de ventos tão fortes que vários bairros ficaram sem luz. Foi terrível, porém ela foi se esvaindo até descortinar um lindo céu estrelado.
Um imenso clarão começou a despontar no horizonte atrás do morro e aos poucos ele foi se erguendo e iluminando pessoas, casas, prédios e automóveis ao ponto de projetar suas sombras sobre o chão. Era linda lua cheia e o apagão potencializou o seu brilho e tornou a noite espetacular.
Estava na casa de um amigo no alto da rua, fiquei impedido de sair devido à chuva. Me despedi e desci a rua caminhando lentamente. Fui cumprimentando vizinhos e amigos que tinham colocado cadeiras sobre as calcadas, pois foram libertados da escravidão da televisão, para conversar sob aquele segundo “sol”. Uma brisa leve soprava ao longo de árvores prateadas e espalhava o doce cheiro e frescor de mangas verdes. Uma noite para não dormir. Sim, eu estava feliz!
Dezembro de 1987.
(memórias do lugar)
PROFESSOR LUCIANO MANNARINO