Tive uma infância muito limitada. Meu pai ganhava a vida como engraxate. Tinha uma banca na Av. Pres. Vargas (Rio de Janeiro) e era lá que ele ganhava o sustento da nossa família. Não tínhamos geladeira e nem televisão (se bem que nas décadas de 1960 e 1970 não era muito comum a presença desses dois eletrodomésticos numa casa). Dormíamos por volta das 20:00 horas sem muito o que fazer. No entanto, tínhamos um chuveiro elétrico!
Sim, um chuveiro velhinho e barulhento que sempre apresentava defeitos, mas nunca deixou de funcionar, pois meu pai, como um relojoeiro suíço, tinha uma enorme paciência para consertá-lo. Me lembro um dia que chegou do trabalho e ficou até altas horas sobre um amontoado de peças para procurar o defeito. Eu nunca entendia aquilo, afinal eram tantas carências. Essa obsessão do meu pai, em relação ao chuveiro elétrico, é uma das lembranças marcantes que eu tenho da minha infância.
Bom, há pouco tempo conversando com minha mãe sobre esse nosso passado.
– É realmente não tínhamos nada. Eram bons tempos mesmo com todas aquelas limitações.
– É verdade, a Senhora nunca reclamou da vida que tínhamos.
– Bom, seu pai nunca deixou faltar o único conforto que pedi quando nos casamos.
– Qual?
– Ter água quente no chuveiro. Ele sempre soube que eu odiava tomar banho frio!
Luciano Mannarino.
#geoverdade
Joe progessor
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