‘Fine Waters’ (avaliação)

 


SÃO PAULO — Uma celebração especial costuma ser acompanhada, em casa ou no restaurante, por um brinde com uma bebida à altura do momento. E ele não está restrito a cervejas, champanhes, vinhos, uísques e gins . Para um grupo cada vez maior de pessoas , situações especiais merecem uma taça de água . Ainda mais se ela vier da Floresta Amazônica , de icebergs ou de vulcões . É neste nicho de mercado, o das fine waters, que o Brasil entra agora.
A partir desta segunda-feira começa a ser vendida em Paris e de forma on-line para todo o mundo, a Ô Amazon Water, De olho em milionários, excêntricos e abstêmios que poderão desembolsar € 70, ou R$ 330, por uma garrafa de 750ml.
— Escolhemos usar o ar mais puro do planeta e produzir a água mais pura do mundo — diz Cal Júnior, empresário que afirma ter destinado R$ 20 milhões ao projeto.

Sim, a Amazônia é a região mais úmida dos continentes — ao menos por enquanto. Mas não é de seus imensos rios que chega o líquido que pretende estar nas mesas de restaurantes estrelados, hotéis exclusivos e residências da alta-roda. A Ô Amazon é extraída da umidade da atmosfera, do vapor da floresta, que forma os chamados “rios voadores”, fundamentais para o equilíbrio climático de toda a região.
Júnior aprimorou uma técnica para retirar água da umidade do ar, semelhante ao que ocorre com os aparelhos de ar condicionado, para obter água potável. Ela é então filtrada e envasada em garrafas de vidro vindas da República Tcheca, colocadas em caixas especiais e embarcadas para a França.

A primeira leva — chamada de safra, que tem até nome, Onça Pintada — terá dez mil garrafas. Mas ele tem planos para levar a produção a seis milhões de garrafas por ano.
— Queremos chegar a 20 cidades em 12 países, atingindo 200 pontos de venda, como restaurantes, hotéis e duty frees — disse Júnior.
A produção ocorrerá em Barcelos, o maior município do Amazonas, no coração do estado. Segundo Júnior, o projeto vai gerar riqueza para a região e preservar o meio ambiente. A fazenda de onde é extraída a água possui uma ampla reserva ambiental. Hoje com 52 funcionários diretos e 17 na área administrativa, a empresa caminha para se tornar a terceira maior empregadora da cidade, atrás apenas do Exército e da prefeitura.
Águas para celebrar
Para o empresário, as informações de desmatamento e queimadas recordes na Amazônia não vão impactar seu produto.

A Amazônia passa por ataques, desmatamento, que precisam ser observados. Mas temos que debater as possíveis soluções. Você pode muito bem desenvolver uma região sem causar impacto. Isso é o que chamam de indústria 4.0 — disse, incluindo-se na solução.
Mas há mercado para se pagar centenas de reais por alguns goles de água? Especialistas acreditam que sim.
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— Estas águas não são para hidratar, mas para celebrar — explica o americano Michael Mascha, fundador do Fine Water, a primeira academia para sommeliers de água dos Estados Unidos, criada há 17 anos. — Estou muito empolgado com essa água amazônica, ela tem uma história incrível, um forte peso emocional, tudo para ser um sucesso.
O americano tem iniciado sua cruzada para provar que “água não é tudo água”, e espera um tratamento diferenciado, como o do vinho. Ele se interessou pelo assunto quando foi proibido por ordens médicas de consumir álcool. Milionários indianos que não bebem álcool e até o uso das águas para comidas especiais são outro filão. Mascha lembra, por exemplo, que a água ajuda a explicar o gosto de um lámen no Japão ser diferente do sabor no Brasil:
—Posso fazer com você um teste cego, de cinco marcas diferentes de águas, e você verá que não é tudo igual.
Mascha cobra US$ 2,2 mil (R$ 9.200) por um curso de sommelier de água. Segundo ele, hoje há cerca de cem no mundo.
Único brasileiro sommelier de água, Rodrigo Rezende é um dos críticos da Ô Amazon:
— Temos tantas águas boas no país, mais de mil fontes minerais, e vão usar o nome do Brasil e da Amazônia para vender uma mentira, pois isso nem sequer é uma água mineral, é uma água diferente.
Mas Rezende concorda que há mercado para o produto, como há para águas de iceberg e geleiras, que também não podem ser consideradas minerais. E lembra que já começam a existir no país restaurantes com menu de águas.
Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Águas Minerais (Abinam) acredita que o mercado está crescendo e se sofisticando no país, mas ainda enfrenta resistência.
— No Brasil, há dois tipos de água: com e sem gás. Tudo é visto como incolor, inodoro e insípido — disse ele. — Mas as empresas brasileiras, que investiram muito no passado em tecnologia, começam a dar mais atenção a ações de marketing e à diferenciação.

Lancia conta que o setor já se prepara para criar, ainda no primeiro trimestre de 2020, um novo selo de qualidade:
— Vamos ter um selo para provar que as empresas estão recolhendo do ambiente as garrafas plásticas das águas, uma das maiores fontes de poluição do país. Isso pode mudar o setor.


Conheça outras ‘fine waters’
Água de iceberg: A norueguesa Svalbarði promete “o gosto do Ártico” a € 79,95 (R$ 375) a garrafa.


Água vulcânica: Por US$ 34 (R$ 142), é possível ter a garrafa da Waiākea, feita no Havaí.


Água de árvore: A De L’Aubier engarrafa sua água a partir do bordo (maple) canadense. A garrafa sai por US$ 40. 

https://oglobo.globo.com/economia/garrafa-de-agua-dos-rios-voadores-da-amazonia-chega-ao-mercado-por-330-24125111

 

Questões

1  O que são os chamados “rios voadores” presentes no texto e qual a sua importância para os climas da Região Centro Sul do Brasil?

2 O texto apresenta uma forma bastante interessante de aproveitamento sustentável das riquezas da região amazônica. Aponte outras duas

3 De que forma a integração de mercados fica evidenciada na reportagem?

4 O que são “Fine Waters”? Aponte uma crítica que é feita na criação da “Fine Water” amazônica.

 Prof. Luciano Mannarino.

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