Cidade busca impedir que pessoas mais pobres tenham de deixar bairros com alta procura
Os preços dos aluguéis de mais de 1,5 milhão de apartamentos em Berlim serão congelados ou reduzidos por cinco anos, graças a uma nova legislação que visa frear uma alta recente dos aluguéis que vem expulsando moradores mais velhos ou de renda mais baixa.
Aprovada por legisladores na quinta-feira (30/1) e prevista para entrar em vigor em março, a medida é uma tentativa do governo de esquerda berlinense de barrar o processo de gentrificação de uma cidade que ficou famosa por seu cenário criativo, mas está sentindo a pressão de investidores imobiliários e de projetos de infraestrutura.
“Criamos um instrumento que vai sustar o movimento ascendente absurdo dos preços pelos próximos cinco anos”, anunciou Katrin Lompscher, senadora responsável pelo desenvolvimento e vida urbana de Berlim, em coletiva de imprensa na sexta-feira. “Cabe aos políticos criar as condições básicas para permitir que pessoas de renda mais baixa e de classe média continuem a poder viver em Berlim.”
Viver em imóvel alugado é mais comum na Alemanha do que em casa própria; mais de metade dos habitantes do país aluga o imóvel em que vive. Apenas 18% dos 3 milhões de habitantes de Berlim têm casa ou apartamento próprio.
A nova lei não permite que a maioria dos aluguéis na cidade custe mais do que em 2019 e limita o valor que pode ser cobrado, com base na condição do imóvel e suas instalações.
Críticos da medida dizem que ela vai dificultar o crescimento muito necessário do mercado imobiliário e afastar empresas dispostas a construir unidades habitacionais de custo acessível numa cidade que, conhecida nos anos 1990 por seu cenário “pobre, mas sexy” de festas e clubes, desde então tornou-se uma capital europeia que passa por transformações velozes.
Empresários do setor imobiliário e membros do partido conservador da chanceler Angela Merkel ameaçaram contestar a lei. Segundo eles, a medida viola a constituição alemã, que estipula que os aluguéis são determinados pelo governo federal.
“O teto imposto aos aluguéis equivale a uma desapropriação. É uma catástrofe para o mercado imobiliário berlinense”, disse Jürgen Michael Schick, presidente da Associação Imobiliária da Alemanha. Desde que a medida que impõe um teto aos aluguéis foi proposta pela prefeitura de Berlim, no ano passado, a entidade vem avisando sobre seus potenciais efeitos negativos.
“Limitar e reduzir a receita obtida de aluguéis vai gerar incerteza para investidores e desencorajar os investimentos no setor”, disse Schick.
Para Lompscher, o objetivo não é sustar o crescimento do parque habitacional, mas reduzir a pressão financeira sobre os inquilinos enquanto empreendedores imobiliários e autoridades municipais facilitam a construção de mais unidades habitacionais. Berlim, capital da Alemanha, tem planos para construir mais de 60 mil apartamentos adicionais nos próximos anos, disse a senadora, muitos dos quais serão imóveis de preço mais acessível.
Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, a cidade reunificada se viu com um excedente de apartamentos, muitos dos quais de propriedade do estado. Em um esforço para gerar recursos urgentemente necessários para custear a reunificação de Berlim oriental e ocidental, muitos imóveis foram privatizados.
Investidores imobiliários estrangeiros não demoraram a entender o potencial de crescimento que havia em Berlim – onde os aluguéis ainda custam significativamente menos que em Londres, Paris ou Roma— e começaram a comprar e reformar apartamentos. Também começaram a cobrar aluguéis mais altos.
Ao mesmo tempo a população de Berlim continuou a crescer. Entre 2012 e 2017 a cidade ganhou 250 mil habitantes a mais, segundo cifras oficiais.
Esse conjunto de fatores levou a uma alta nos preços dos aluguéis, especialmente nos bairros mais procurados. Em 2017, Berlim foi a única grande cidade do mundo em que os preços dos imóveis subiram mais de 20% em relação ao ano anterior, e os aluguéis acompanharam essa alta.
“Três milhões de inquilinos em Berlim vão se beneficiar da medida”, disse Iris Spranger, porta-voz para assuntos habitacionais em Berlim do SPD, um dos partidos governistas que aprovou a lei.
“Após uma fase prolongada de aumentos galopantes, os aluguéis agora serão congelados”, ela disse. “É mais do que necessário.”
Tradução de Clara Allain.
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