Era uma manhã fria de inverno quando três viaturas da PM e uma Van entraram no pátio da ETEAB (Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch) provocando um certo espanto em todos alunos, funcionários e professores.
Um oficial saiu de uma das viaturas e rumou prontamente para a andar da direção. Alguns minutos depois, um colégio parece uma quitanda, todos ficaram sabendo que o governador do Estado do Rio de Janeiro usaria o campo de futebol do para pousar seu helicóptero, pois inauguraria um curso de capacitação na comunidade da Mangueira que fica bem próxima.
Isso despertou a fúria do grêmio estudantil que há tempos reclamava das condições da unidade junto a SECTI (Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia) e nunca foram ouvidos. Acharam isso uma afronta.
Após uma breve reunião, os alunos decidiram que iriam cercar a aeronave para bloquear o acesso do governador e só liberar depois de todas as reivindicações ouvidas e estavam dispostos a enfrentar a PM se fosse o caso. Alguns colegas professores tentaram ponderar, mas eles estavam decididos e só restou acompanhar o desenlace numa das janelas.
As 9:00 em ponto apontou no horizonte o tal helicóptero que, após algumas manobras de aproximação, posou suavemente no campo e quando as hélices davam as últimas voltas a aeronave foi cercada por dezenas alunos diante de atônitos policiais militares. O impasse estava armado.
Foram vários minutos até que um ajudante de ordem do governador saiu para falar com diretor do grêmio. Uma breve conversa e ele voltou para o aparelho e mais alguns minutos se passaram até que finalmente o governador apareceu e, com um largo sorriso, acenou e caminhou em direção aos alunos.
Foi logo cercado, e após gestos, falas, todos os alunos comemoraram, o abraçaram e fizeram questão de escoltá-lo até um furgão que o esperava.
Foi uma rápida inauguração, o governador voltou e antes de entrar no helicóptero, mais acenos que foram respondidos com uma calorosa salva de palmas. O aparelho levantou voo e desapareceu no horizonte.
Achei tudo aquilo muito estranho, dado aos ânimos exaltados, e assim que pude, fui até o grêmio para saber sobre o encontro e quando cheguei lá todos estavam discutindo o desconforto criado pela atitude de cercar o aparelho.
– Não havia necessidade! Fomos imaturos!
Disse, cabisbaixo o diretor do grêmio.
– Verdade!
Alguém disse.
– Afinal, o que aconteceu lá em baixo?
Perguntei assombrado.
– Professor, o governador fez o pouso de maneira intencional, ele queria saber das reais necessidades dos alunos junto a Secretária. Foi uma decisão dele. Queria falar com a gente diretamente. Nos ouviu e exigiu uma relação de todas as carências e necessidades. Entregamos uma lista suas mãos quando ele voltou da inauguração. Ele foi super atencioso!
Após alguns segundos, fui visceral
– Caros alunos. Ele só queria sair e voltar para o helicóptero com segurança. O que ele fez nesse meio termo, foi nos tratar como otários! Que fique a lição.
Os meses se passaram e nenhuma das carências foram atendidas, não custa nada dizer.
Quase esqueci, o cínico governador encontra-se preso no complexo de Bangu.
Acredito que vai ficar lá por longo período.
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