Era uma tarde, meados da década de 1990, auditório lotado e muita impaciência, pois nosso palestrante estava quase 1 hora atrasado.
– Será que ele vem? Pergunta o meu vizinho de cadeira.
– Seria uma tristeza! Respondo ajeitando minhas anotações.
A ansiedade aumentava e só foi contida com a notícia que ele já estava a caminho da mesa. Sim, havia chegado. Alguns minutos se passaram e o Professor finalmente entrou. Se acomodou e logo após uma calorosa salva de palmas, se justificou com notória rispidez.
– Devo a Maurício de Abreu esse atraso! (O Professor Maurício de Abreu foi buscá-lo no Aeroporto)
Ainda ajustando o microfone, alertou que não estava com anotações e, portanto, ficaria livre para refletir sobre o ambiente urbano, mas tentaria seguir um roteiro. Estava preocupado com as pessoas que escreviam observações, segundo ele: “alunos sérios” (meu caso).
Foram quase duas horas de uma das mais belas palestras que eu tive o prazer de contemplar enquanto ainda estava envolvido com debates acadêmicos. Até hoje ecoa em minha mente a seguinte reflexão:
“E é nesse momento que a corporeidade do homem fica evidente, num mundo onde não entendo nada, o meu refúgio final é meu corpo. O fato de ter corpo, de ser corpo, e por conseguinte, ser idêntico a si mesmo e diferente dos outros. Quanto mais diferentes somos é porque juntos estamos, no caso da cidade, mais fácil é a busca de um pensamento novo”
Milton Santos foi um ferrenho crítico da Globalização, porém sempre conservou um enorme otimismo em relação ao futuro.
Obrigado Professor Milton Santos!

PROFESSOR LUCIANO MANNARINO