A parte da rua onde as partidas eram realizadas com seus buracos no chão, calçadas irregulares, paralelepípedos, postes, pessoas e carros que passavam, etc, tornava o futebol um jogo peculiar – quem já esteve de cara para o gol quando um carro estava passando e foi obrigado parar a bola sabe o que eu estou falando.
Foi nesse pequeno universo que sentimentos e aptidões foram desenvolvidos e exercitados como a rivalidade, a solidariedade, o oportunismo, a superação, o esforço, a vitória, a derrota, enfim turbilhões de emoções que cada jogo oferecia – É possível conhecer muito sobre nós mesmos e sobre as pessoas durante um simples jogo de futebol. Era uma escola, pelo menos para mim, no entanto, teve um fim melancólico. É que no final da rua onde vivi começaram a construir um condomínio de seis prédios com dez andares cada um. Sabíamos que isso poderia afetar nossas partidas, porém continuávamos a jogar, agora parando a bola para o transito de caminhões.
Mas na semana seguinte, após a entrega das chaves dos apartamentos, tudo mudou. O quarto automóvel que passou, com alguns minutos de jogo, descortinou o obvio: Havíamos perdido nosso “campo” de futebol. Ficou inviável. Olhamos uns para os outros e resignados, sem dizer uma palavra, cada um foi para sua casa e nunca mais voltamos a jogar na rua. Fiquei sozinho com a bola sobre meu pé refletindo sobre a perda do meu laboratório de personalidades, paixões e sentimentos até que uma buzina interrompeu minha melancolia.
(memórias do lugar)
Professor Luciano Mannarino