Carta à República Democrática do Congo não menciona especificamente rei acusado pela morte de 10 milhões de africanos
A família real da Bélgica expressou pela primeira vez arrependimento pela violência cometida contra a população da atual República Democrática do Congo durante a exploração colonial do país africano, que nesta terça (30) comemora 60 anos de independência.
Em carta enviada ao presidente congolês Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo, o rei Phillipe mencionou “atos de violência e crueldade, que ainda pesam em nossa memória coletiva”.
“O período colonial causou sofrimento e humilhação. Gostaria de expressar meus mais profundos arrependimentos por essas feridas do passado, cuja dor agora é revivida pela discriminação ainda presente demais em nossas sociedades”, acrescenta.
Ele não cita o nome de seu tio-bisavô Leopoldo 2º, tido como responsável pela morte de cerca de 10 milhões de habitantes, mas menciona o Estado Livre do Congo, território que foi propriedade privada do monarca de 1885 a 1908, e o período de 1909 a 1960, em que a região se manteve colônia da Bélgica.
Segundo historiadores, cerca de 10 milhões de africanos morreram durante o reinado de Leopoldo 2º.
Nas últimas semanas, cresceram protestos que existem há anos contra a permanência de estátuas de Leopoldo 2º nas cidades.
Várias delas foram danificadas ou derrubadas durante manifestações após a morte do americano George Floyd nos EUA — em Bruxelas, uma das estátuas mais visadas fica justamente ao lado do palácio em que mora a família real.
A Secretaria de Patrimônio da região criou uma comissão para estudar a retirada definitiva de homenagens ao rei colonialista.
A última vez que um rei belga havia mencionado Leopoldo 2º foi em 1960, em visita para marcar a independência da República Democrática do Congo. Na ocasião, o rei Baudouin elogiou o espírito empreendedor de Leopoldo 2º, que era chamado de “rei construtor”.
Após as manifestações antirracistas, o departamento de comunicações da família real havia afirmado à mídia belga que o chefe de Estado estava “envolvido em uma reflexão sobre esses assuntos”.
Embora o rei Phillipe fale em arrependimento, analistas belgas ressaltaram que não se trata de um pedido formal de desculpas, algo que caberia ao governo, hoje liderado pela primeira-ministra Sophie Wilmès.
Durante a inauguração de uma placa comemorativa dos 60 anos da independência congolesa, a chefe de governo foi questionada se a Bélgica se arrependia de suas ações durante a época colonial. “Com certeza”, respondeu.
“Em 2020, devemos ser capazes de olhar para esse passado compartilhado [com a República Democrática do Congo] com lucidez e discernimento. [Um período] também marcado por desigualdade e violência contra os congoleses”, disse.
[…] Família real belga fala pela 1ª vez em arrependimento por colonização na África. […]
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