Alemanha se desculpa por genocídio na Namíbia e oferece 1 bilhão de euros

Repressão de colonizadores a rebeldes, no começo do século 20, dizimou dois povos da região africana

28.mai.2021 às 13h24

Ana Estela de Sousa Pinto

BRUXELAS

A Alemanha reconheceu oficialmente nesta sexta-feira (28) ter sido responsável por um genocídio na Namíbia durante a era colonial. O governo alemão pagará à nação africana 1,1 bilhão de euros (cerca de R$ 7 bilhões) para compensar danos infligidos.

A matança aconteceu entre 1904 e 1907, quando soldados alemães assassinaram de 75 mil a 100 mil pessoas no então território da África do Sudoeste, atual Namíbia, após revolta dos povos herero e nama.

Uma das últimas fronteiras africanas a despertar o interesse de colonizadores europeus, essas áreas semidesérticas foram ocupadas pela Alemanha em 1884. A expansão rumo ao interior levou aos conflitos com povos já estabelecidos, enraivecidos pela perda das poucas terras aráveis do território.

Seis africanos em pé e três agachados ao lado de soldado, em foto em preto e branco
Soldado alemão (dir.) e prisioneiros africanos durante repressão a povos herero e nama na região em que hoje fica a Namíbia; o massacre dos colonizadores durou de 1904 a 1907 – Arquivos Nacionais da Namíbia via AFP

A revolta dos povos herero e dos nama foi contida com assassinatos em massa, internação em campos de concentração insalubres e expulsões para o deserto, onde milhares de homens, mulheres e crianças morreram de sede. O massacre alemão exterminou 80% dos herero e 50% dos nama, reduzindo-os a parcelas relativamente pequenas entre os 2,6 milhões de namibianos atuais. Os herero, por exemplo, passaram de 40% da população para apenas 7%.

A Organização das Nações Unidas, que define genocídio como “uma série de atos, incluindo assassinato, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, considera desde 1985 o massacre como o primeiro genocídio do século 20, e a Alemanha já havia reconhecido “responsabilidade moral”.

Museus alemães também devolveram em 2018 restos mortais de vítimas herero e nama que haviam sido trazidos para a Alemanha para pesquisas destinadas a “provar a superioridade da raça branca”. As negociações sobre o pagamento da indenização, porém, levaram seis meses, porque a Alemanha temia que o uso do termo “reparação” a deixasse suscetível a novas ações na Justiça.

No anúncio desta sexta, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse oficialmente que os eventos, “da perspectiva de hoje”, foram “um genocídio”. “À luz da responsabilidade histórica e moral da Alemanha, pediremos perdão à Namíbia e aos descendentes das vítimas”, afirmou, antes de enfatizar que “reivindicações legais de compensação não podem ser derivadas disso”.

O governo alemão quer desincentivar reclamações como a da Grécia, que pede cerca de € 289 bilhões (R$ 1,84 trilhão) por danos causados durante o período nazista. Por isso, os recursos foram anunciados como “um gesto de reconhecimento do imensurável sofrimento infligido às vítimas”.

“Queremos apoiar a Namíbia e os descendentes das vítimas com um programa substancial de 1,1 bilhão de euros para reconstrução e desenvolvimento”, disse Maas.

Namíbia ocupa o 130º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, entre 189 pesquisados e tem a segunda maior desigualdade do mundo, segundo o Banco Mundial, melhor apenas que a vizinha África do Sul nesse item. Seu índice de Gini é de 59,1, numa escala que vai de 0 a 100 (o do Brasil é 53,4), o desemprego passa de 30%, e a pobreza atinge mais de 20% da população.

Apesar da promessa de participação das populações locais nos investimentos em infraestrutura, o acordo foi rejeitado por líderes dos herero e dos nama. Eles afirmaram considerar o valor insuficiente para compensar o sofrimento de seus ancestrais e a perda de suas terras.

Caveira em meio a telas verdes
Crânio que faz parte de restos mortais de guerreiros dos povos herero e nama, em museu de Berlim, em 2018; os ossos foram devolvidos pela Alemanha à Namíbia – Christian Mang – 29.ago.18/Reuters

O anúncio alemão acompanha o movimento de vários outros países europeus para reconhecer crimes do período colonial e oferecer reparações. Desde o ano passado, estátuas foram derrubadas em vários países, e governos como o da França e da Holanda têm devolvido obras de arte trazidas de países africanos, discussão que ocorre também no Reino Unido.

Nesta semana, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi a Ruanda pedir desculpas pelo papel da França no genocídio que deixou 800 mil mortos da etnia tutsi, em 1994. Estudo encomendado pelo governo francês concluiu que o país europeu, embora não tenha sido cúmplice do genocídio, tinha “responsabilidades avassaladoras”, por se manter aliada ao governo “racista, corrupto e violento” dos hutus, que se preparavam para massacrar os tutsis.

Museu das Civilizações Negras de Dacar, no Senegal
Museu das Civilizações Negras de Dacar, no Senegal Divulgação

“A França tem um papel, uma história e uma responsabilidade política. Tem o dever de confrontar a história e reconhecer sua parte no sofrimento que infligiu ao povo ruandês”, disse Macron nesta quinta (27), após visitar o Memorial do Genocídio de Kigali.

Manter e ampliar sua influência na África é uma das prioridades de política internacional de Macron, que gosta de lembrar ser o primeiro presidente francês nascido depois que a maior parte do continente conquistou sua independência. Em 2019, ele visitou a África oriental e assinou acordos de parcerias e investimentos na Etiópia e no Quênia. Na viagem atual, ele visita ainda a África do Sul.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/05/alemanha-se-desculpa-por-genocidio-na-namibia-e-oferece-1-bilhao-de-euros.shtml

Questão

1 A ocupação alemã, no início do século XX, na região que hoje abriga a Namíbia é reflexo da “Partilha da África”? Justifique.

2 Em que momento do texto é possível perceber que o processo de independência dos países africano é um processo relativamente recente?

3 Explique a formação do Deserto da Namíbia.

4 A ajuda dos países europeus em nações africanas abriga interesses geopolíticos? Justifique.

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Prof Luciano Mannarino

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